NOTA PRÉVIA: por imposição legal à data do meu nascimento foi-me atribuída a naturalidade em Mafamude uma vez que nasci no Hospital de Gaia, no entanto, sou Avintense e sempre serei porque o lugar onde se nasce é apenas uma circunstância da Vida.
Desde o ano passado
que tenho tido o privilégio de neste dia vos saudar em representação do Partido
Socialista e em conjunto celebrarmos a nossa cultura e a nossa identidade.
Hoje comemoramos mais
uma sessão solene do Dia de Avintes. Revive-se o passado, vive-se o presente e
sonha-se o futuro.
Creio poder também afirmar
que celebramos igualmente o imenso orgulho
avintense que nos é sobejamente reconhecido.
E os Avintenses têm
inúmeras razões para sentir orgulho da e na sua história, das
suas gentes, das conquistas e das lutas diárias desde os tempos da sua criação
para afirmarem as suas convicções e os seus intentos.
Não podemos esquecer
a determinação relatada em escritos históricos das várias vereações que
corajosamente lutaram para que esta freguesia se tornasse a sede de um grande
concelho. Pese embora isso não tenha acontecido, Avintes não se calou e protestou
junto da Rainha o seu total desagrado com a anexação que sofreu em 1836 ao
concelho de Gaia. Ainda hoje Avintes não se deixa calar sempre que tem que ser
escutado.
Avintes, nasceu
aldeia na margem esquerda do rio Douro, com características tão próprias e tão
suas que por vezes somos levados a repetir o que já foi dito e louvado tantas vezes.
Mas nunca será demais
honrar as nossas origens. Este sentir
avintense tão bem plasmado nos relatos históricos de onde se absorve este amor à terra e a dedicação que lhe
advoga quem por ela trabalha, escreve, representa e muito bem a dignifica.
Assim e como um bom
hábito que se foi ganhando na nossa freguesia, hoje é também um dia de
reconhecimento, homenageia-se através do Diploma de Artesão de Mérito, uma nova
atividade, mas muito antiga na sua existência e tradição e que se trata dos
Merceeiros.
Avintes continua e continuará a agraciar
publicamente quem tanto contribuiu para o bem-estar da comunidade.
Muitos foram aqueles
que para além de fazerem desta uma atividade económica e fonte do seu trabalho,
ajudaram várias famílias nas suas necessidades básicas do dia-a-dia, anotando
no livro os bens mais essenciais para a subsistência de quem os procurava e
recebendo “a conta gotas” o que forneciam.
Nas mercearias avintenses, por norma pequenas
lojas com um aspeto tradicional que vendiam e as que ainda subsistem vendem
produtos de grande consumo, sobretudo de cariz alimentar mas também produtos de
higiene, bebidas e objetos de uso doméstico, sempre encontramos um sorriso para
nos receber.
Quem de nós, outrora crianças, nunca a elas
recorreu, às escondidas dos pais, para comprar rebuçados?
Eu “não atiro a primeira pedra” pois dessa
“falta” sempre serei culpada e que boas recordações tenho daqueles “flocos de
neve”!
E é nestas singelas mas sentidas homenagens que
Avintes enaltece as suas gentes, demonstra o seu brio e não deixa esquecer
todos aqueles que nos permitiram alcançar o que hoje temos e que nos permitem
sonhar o que amanhã conquistaremos. Obrigada também a todos vós.
Realçar o Dia de Avintes permitirá aos jovens
conhecer melhor o nosso passado e aos mais velhos reviver e partilhar as suas
memórias e vivências até porque acredito que a identidade de um povo se renova
sempre que é celebrada.
Este será sempre um dia importante, quer pelo
seu simbolismo e pela identidade muito própria que nos é reconhecida histórica
e culturalmente, quer pelas perspectivas que se criam para os novos desafios
que o crescimento e o desenvolvimento nos trarão para o futuro.
Os tempos mudam. A nossa sociedade tem
sofrido constantes mudanças culturais, políticas, sociais e económicas. O
presente é necessariamente diferente do passado e o futuro sê-lo-á muito mais e
por isso é necessário que aqueles que hoje fazem política exijam de si próprios
maior rigor e ética, assumindo compromissos com dignidade e de forma honesta
pois é para isso que a população delega nos eleitos o poder de trabalharem na
procura das melhores soluções e escolhas para todos.
As populações reconhecem-se nos feitos das
autarquias mais do que em qualquer outra instância política pelo que é nossa
obrigação apresentar propostas concretas e conscientes, desenvolvendo as nossas
ações nessa conformidade.
É principalmente nas juntas de freguesias que
os cidadãos idealizam a satisfação das suas necessidades e por esse motivo
temos a obrigação de continuar a escutar os fregueses.
Uma sociedade constrói-se com o contributo de
todos e todos ganhamos quando damos um pouco de nós para algo que é superior a
nós.
Avintes precisa de todos. Tanto daqueles que
aqui nasceram como também daqueles que decidiram adotar esta terra como sua e
aqui alicerçarem os seus lares ou incrementarem os seus negócios.
Termino desejando que possamos sempre cumprir
as metas de desenvolvimento estabelecidas, com coesão e justiça social e que a
nossa terra continue a permitir a cada um de nós e àqueles que hão-de vir, a
oportunidade de construir o seu projeto de vida, dando resposta, entre outros,
aos desafios da demografia bem como à solidão dos idosos.
Um bem-haja a todos e
muito obrigada pela vossa atenção.
Discurso proferido a 21 de fevereiro de 2020 na Sessão Solene do Dia de Avintes.